quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

E se...

Eu sou um cara muito ruim para interpretar sinais. Eles me são dados a todo momento, jogados na minha cara, aparecem de todos os modos e jeitos, mas eu insisto em não querer ver. Pareço ter um dom para para "fazer de conta que tudo está bem", que "a vida é assim e todo mundo erra". Sou um fracasso! Acho que nem merecia ainda viver diante da minha incapacidade para resolver pequenos problemas. O mundo não foi feito pra gente como eu.

Sinto que tenho coisas para resolver há, no mínimo, uns quatro anos. Talvez tudo poderia ser melhor se a todo tempo não ficasse pensando: "e se..." São apenas três letras que possuem o peso de um piano usado pela Orquestra Sinfônica de Estrasburgo. "E se eu me arrepender". "E se não for mesmo o que estou pensando". "E se a mudança não for boa". "E se eu esquecer de pagar a conta de luz, pedir água mineral, deixar todas as luzes da casa acesa por três ou quatro dias".

E se...

Mais uma vez chegou dezembro. Na minha vida nada mudou. Todos questionamentos feitos agora, foram feitos também nos dezembros de 2007, 2008, 2009 e 2010. E se...quando 2011 chegar tudo for diferente?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Como pode alguém sonhar com o que é impossível saber

Depois de uma década de formado, volto a ouvir "los hermanos". Volto a ficar viciado, refletindo sobre às perguntas que me eram feitas naquele momento da minha vida onde eu só queria sonhar. Nos fios que puxei, nas redes que teci, nos caminhos que trilhei ao caminhar, tinha esquecido  dos barbudos.
Tinha esquecido do quanto é bom seguir os caminhos apontados pelo vento. Talvez, na busca de títulos, tenha esquecido do bem que faz lembrar de quem lembra da gente na fila do pão. De repente me bateu saudade. Mas o natal está chegando e, com ele,  a hora de voltar pra casa.
Talvez chegue a hora de dizer palavras que ficaram esquecidas na falta de créditos do celular. Talvez faltasse tempo entre um capítulo da tese, uma bronca da orientadora e o mau humor de um aluno em busca do caminho apontado pelo vento.
Mas o esforço pra lembrar é vontade de querer.
Então, vamos esperar dezembro chegar!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

É FESTA!

Eu sempro acho que não vai dar tempo.
Eu também sempre acredito que sempre pode ser melhor.
Eu poderia ter lido um livro a mais;
Escolhido uma palavra mais bonita para fechar um determinado parágrafo;
Quem sabe tuitado menos;
Orkutado menos;
Mas, apesar de todas as limitações, o primeiro parágrafo da tese ficou pronto.
E, agora, eu não sei se comemoro;
Não sei se corro mais rápido que o tempo e começo o segundo;
Mas sei que cumpri a primeira meta;
E tô feliz pakaralho por isso.

Sobre o calor e o voto secreto

Desisti de fazer escolhas. Durante muito tempo eu desejei o frio como um americano do Sul deseja férias no Caribe. Mas conheci um pouco do frio e não curti muito. Disse pra mim mesmo que queria mais calor. Prometi que quando o calor voltasse eu iria ficar feliz. Afinal de contas, poderia tomar banho sem reclamar do frio. Teria mais motivos pra tomar cerveja. Poderia, quem sabe, achar motivos para trocar os meus óculos de sol que estão gastos. Mas estou conhecendo o calor em sua potência máxima e, pra variar, também não curti.

O calor senegalês que tem feito no Acre nos últimos dias não é uma coisa pra humano. Se tivesse feito um transplante de célula tronco com um habitante do Zimbábue acostumado a conviver com uma temperatura na casa dos 50 graus ai, quem sabe, eu suportaria. Mas não está dando.

Como se não bastasse o calor, ainda tenho que conviver com uma porrada de gente que fica a todo momento perguntando em quem vou votar. Estou me sentido naquela festa que o Big Brother Brasil faz nas noites de sábado e a pergunta é só uma: em quem você vai votar pra sair da casa? Eu sei que a vida é um BBB, mas o voto ainda é secreto e, nesse caso, não votaremos para escolher quem vai sair da casa, mas quem vai entrar, e isso nem sempre é fácil... 

sábado, 11 de setembro de 2010

Por mais Menina de Óculos

Ao longo dos últimos três anos, tenho nutrido o saudável hábito de visitar diariamente a morada virtual da Menina de Óculos. De visita em visita, já gargalhei em alto e bom som das suas verdades ditas com um humor dos melhores. Silenciosamente, para manter a lisura do processo, já comemorei algumas de suas vitórias.

Acredito que o All you need is Love, lema do seu blog, deveria ser adotado como plataforma de governo por todos os candidatos ao cargo de presidente do país. O Brasil ficaria mais humano e as falsas promessas não fariam mais sentido.

Mas há uma semana ela entrou em recesso. Confesso que esse hiato não faz bem para a minha vida virtual. Fica faltando humor, belas imagens, frases que nos fazem pensar, fica faltando muito. Mas, como um bom menino de óculos que sou, estarei esperando por sua volta.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A aula de Pilates e a flexibilidade que não tenho

Até a última quarta-feira, o Pilates era para mim uma prática só feita por aqueles que estão habituados a comer em self-service de restaurante natural. Sei que uma coisa não tem nada haver com outra, mas sempre achei que pilates era a yoga revisitada. Mas eis que uma coluna precisando de ajustes me fez conhecer tal prática esportiva ( não sei se essa é a melhor expressão).
E lá, eu me encontrei com um mundo novo. Um espaço que deve ser a sessão da tarde das atletas de Ginástica Rítmica Desportiva da Bielorrusia,  mas pra mim foi sofrimento em sua mais perfeita tradução. Fiquei intrigado como a senhora do meu lado, na casa dos 50 e tantos, colocava o umbigo na testa, a mão no pé, a cintura na cabeça e ainda dava um sorriso reconfortante pra mim, que só a falava ao professor que não conseguia  terminar os exercícios. Diante da minha incapacidade, o nosso diálogo foi quase infantil, era como se eu tivesse aprendido a contar só até 5.
Ele: faça 3 de 12 desse aqui.
Eu: 1......2........3.......4........5........posso mudar?
Ele: tente essa aqui 3 de 12
Eu:   1......2........3.......4........5........posso mudar?
Era tudo muito doido. Fora que era muito leeeeeeento, devagaaaaaaaar, algo que não consigo acompanhar. Sou ansioso desde 1975 e não consigo diminuir a velocidade, apesar de saber que preciso.
Mas hoje continuarei tentando. Quem sabe não chego até o 10 e aprendo a respirar. Só sei que o pilates me mostrou mais uma coisa que não sei. Assim como não sei dirigir carro, andar de bicicleta, usar compasso, trocar cartucho de impressora, também não sei respirar. Para minha sorte, tenho um monte de coisas para aprender na vida. Triste de quem acha que sabe de tudo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Aviso

Entre um parágrafo e outro da tese, me dei o direito na madrugada de domingo pra segunda de me deixar levar pelos belos versos do livro "Para não dizer adeus". Lya Luft me falou verdades que gostaria de compartilhar com vocês.

AVISO

Se me queres amar,
terá de ser agora: depois
estarei cansado.
Minha vida foi feita de parceria com a morte:
pertenço um pouco a cada uma,
pra mim sobrou quase nada

Ponho a máscara do dia,
um rosto cômodo e simples,
e assim garanto minha sobrevida.

Se me queres amar,
terá de ser hoje:
amanhã estarei mudado.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sob nova direção?

Nessa vida onde os títulos acadêmicos são tão valorizados, acho que vou cumprindo bem minha missão. Fiz mestrado, faço doutorado e tenho uma porrada de outros certificados que orgulham o meu currículo lattes. Mas pra ser feliz ainda me falta uma coisa.

E não estou falando aqui de encontrar um alguém especial que, entre um carinho e outro, vá me ajudar na leitura do livro Pelas Mãos de Alice. Nem de um ser humano encantado, disposto a tecer comentários sobre o conceito de entrelugar do Bhabha no meio de uma cerveja, enquanto fazemos planos para às próximas férias. Acho que são poucas as pessoas capazes de mudar tão rápido de assunto durante uma conversa quanto eu.

Eu queria coisa simples. Eu só queria ser mais uma pessoa que sabe andar de bicicleta. Eu queria deixar de ser ponto de referência. Eu queria muito deixar de ser “aquele dali que nunca aprendeu a andar de bicicleta”. Penso que seria muito bom sair por ai desfilando equilíbrio pelos parques da cidade. Sinto uma certa inveja de todas as pessoas que conduzem uma bicicleta e ainda dão tchauzinho. Quando vejo uma cena dessas, tenho a sensação que faço parte da seara dos excluídos, me sinto um eleitor do PCO (alguém conhece um eleitor declarado do PCO?)

Acho que quem sabe andar de bicicleta, dirigir carro, sabe também conduzir melhor a sua vida. Talvez me falte isso, aprender a conduzir melhor o meu destino. Desatar certo nós. Sentir uma bem vinda sensação de liberdade. Quem sabe...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Carta nº2

Querid@as leitor@as

Venho informar que não as esqueci e nem deixei de escanteio o meu desmemoriado blog, mas devo confessar que os dias não estão fáceis. Os dias difíceis colaboram para que a minha pouca criatividade desapareça de vez. O calor que faz em Rio Branco também prejudica o meu roto cotidiano. Tenho passado tanto tempo tomando água e banho que falta tempo para outras coisas. A fumaça que tem tirado o sossego dos acreanos, também tem me deixado irritado. Talvez ela esteja me impedindo de ver ao longe. Nesse momento era tudo o que eu queria.

   Termino por aqui, prometendo voltar e esperando dias mais felizes e temperaturas mais amenas
 Wagner

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Carta n° 1


Sinto que estou precisando voltar a escrever cartas. Talvez esteja precisando dividir, em um mundo que não está acostumado com isto. E, é assim, reconhecendo minha necessidade, que começo a minha primeira carta para 7 declaradas leitoras (se bem que, talvez, nem todas frequentem minha morada virtual todos os dias). Quero dividir com vocês, minhas primeiras vivências na volta ao Acre.

Entre afagos verdadeiros e outros nascidos sob o signo da vida profissional, começo a me (re)pertencer ao lugar de minha morada física.  Freire nos ensina que é onde pisamos que nos formamos. Concordo com o nobre barbudo, pois sinto que tenho me construído bem no espaço que me acolheu. Hoje, voltei pra casa feliz, uma  coisa que nem sempre acontece.

Gostei de ver o sorriso no rosto de alguns alunos ao me reencontrar, em claras demonstrações de carinho. Vi que, a minha opção por não dar aula, mas compartilhar histórias de vida, tem me aproximado de muitos e, para minha sorte, me distanciado de poucos. Talvez minhas escolhas teoricasmetodológicas (quanta pretensão?!) tenham me distanciado dos que realmente devesse ficar longe. Penso, ainda, que muitos dos meus alunos ainda desejam encontrar na universidade uma prolongação da escola, coisa que acho muito pouco.

Vejo a universidade como espaço de experiências, onde você pode caminhar, às vezes se perder, em outras se encontrar para, quem sabe lá na frente, se perder e se encontrar de novo. Mas muitos são por demais
novos, e preferem apenas se encontrar, sem dá uma oportunidade ao acaso. Entendo que se deixar afetar pelas surpresas, é mesmo uma tarefa difícil. Um  caminho de pedras não é para ser percorrido por qualquer um, a maioria deseja apenas um caminho de brisas...coisa que nem sempre é possível. Mas, repito, eles são jovens.

Meus 35 anos me deixaram marcas, me ensinaram lições e, nos desenhos de uma mal escrita cartilha de caligrafia, continuo a acreditar em outro mundo. Talvez que não seja mais escrito por nós, mas por aqueles que formamos. Um mundo que, de preferência, tenha pessoas mais conscientes, para que a gente não precise sofrer tanto com a fumaça que nessa época do ano muda a rotina do povo acreano.

Termino aqui acreditando, sempre, que o amanhã será melhor

Wagner

domingo, 15 de agosto de 2010

Da janela da alma

A minha amiga Nádia Falcão, futura professora doutora da Ufam, me confessou que dá boas gargalhadas ao ler o meu desmemoriado blog. Fico feliz em fazer à Nádia sorrir. Sei que, apesar dela ser uma das melhores pessoas que conheci em 2010, ela é obrigada, em certos momentos, a ver e ouvir coisas que não gostaria.

Apesar de não ser cantora/modelo/atriz, Nádia habita um espaço onde a vaidade é regra. Onde se fala sem saber direito o que se está falando, pelo simples prazer em se fazer notar. Tanto eu como a Nádia estamos fora dessa.

Nós gostamos mesmo é de apreciar a bela paisagem que nossa “particular janela” nos propicia. Nós curtimos ver o céu surgir azul, em manhãs com um calor que convida para uma ida à praia, mesmo sem a gente poder ir. De ver o movimento da barca. Nós gostamos de dividir momentos de silêncio, nossa particular e bem sucedida estratégia de defesa. E, mais que tudo, nós gostamos de fazer análise sobre os outros, mesmo sem título de psicólogo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Escolhendo sem saber escolher. Mudando sem saber mudar

Eu sou o tipo de pessoa que não gosta de a todo tempo está fazendo escolhas. Acho que nunca faço as corretas e, quando faço, ainda me resta dúvida. Vida boa é a de criança, que só aponta com o dedo o que quer e tem a decisão como tomada. Sem esse negócio de contar até dez, de pensar nas consequências, nem fazer balanço de perdas e ganhos.

Talvez seja pela dificuldade em escolher, que tenho tanta dificuldade para fazer malas. Não sei escolher entre o passado que vira futuro e aquele passado que, foi presente e pra sempre será passado. O conceito de passado elástico não me entra pela cabeça. E como escolher as lembrança que irão ocupar aquela imensa gaveta das memórias? Aquela que fica escondida, em silêncio, sem causar nenhuma tensão, mas que de repente surge ou ressurge mostrando o seu poder para nos tirar do caminho que tentamos seguir sem sobressaltos. Nossa sorte é que a bagagem das lembranças não paga excesso de peso.

Como escolher do vivido aquilo que ficará para trás? Como apagar aquilo que está na pele como tatuagem? Como tirar poeira daquilo que fica melhor escondido entre as inúmeras apostilas do tempo de faculdade? Viver, infelizmente, não é como escrever um texto. Os professores de redação nos ensinam a escolher as palavras menores, a tirar os adjetivos, a escrever parágrafos curtos. Mas o movimento de escolha que a vida nos impõe não permite regras tão objetivas

Neurath nos diz que mudar a teoria, em uma pesquisa, é como reconstruir um barco, tábua a tábua, em alto mar. Talvez fazer mudança seja isso: juntar lembranças, uma a uma, vivendo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pagando uma dívida com São Luis do Maranhão


De todas as capitais do Nordeste, até a última quinta-feira eu conhecia sete. Já tinha me encantado com as belezas de Recife, me deixado seduzir pelos encantos de Maceió, vivido  inesquecíveis dias de férias em Fortaleza e me deixado levar pela vida calma de Aracajú. Também já morei em Natal e João Pessoa. Depois de um périplo regado a muito sol e praias pelas capitais nordestinas, ainda não tinha visitado Teresina e São Luis e tinha que saldar essa dívida.

A capital do Piauí não possui praia, o que nunca me insitigou a visitá-la. Talvez tenha que encontrar um congresso para conhecer o estado. São Luis me parecia distante, meioNortemeioNordeste, mas despertava e muito minha curiosidade. E foi munido de pouco dinheiro e muita curiosidade que rumei para a capital dos maranhenses.

Sinto que demorei muito para conhecer o Centro Histórico da cidade. As fachadas revestidas por azulejos portugueses são encantadoras. As ruas apertadas e cheias de turistas estrangeiros munidos de máquina fotográfica são um passeio que lembram um labirinto cheio de histórias, com desbravadores que exploram um lugar pouco conhecido pelos próprios brasileiros.

As praias não são tão bonitas quanto as de Alagoas ou do Rio Grande do Norte, mas a água é de temperatura agradável e convidam para um banho de mar. A cerveja no Reviver deve ser tomada como se fosse um ritual. Deve-se apreciar a boemia do local e a história que a todo momento desfila para nossos olhos.

Fiquei encantado pela forma como o Maranhese da capital defende sua cultura. Fui para uma festa chamada de "a morte do boi". O evento marcava o fim das comemorações do período junino, que no estado tem no bumba meu boi sua maior representação. De morte a festa não lembrava nada e só acabou nos primeiros raios de sol.

Achei interessante o tal do refrigerante Jesus. Um suco de groselha que vende mais que coca cola. Confesso que não aprovei o sabor, mas os ludovicenses tem o Jesusinho como uma religião. Os maranheses também possuem a estranha mania de levar os carros para dar uma volta na areia da praia. Vi inúmeros carros ainda sem placa estacionados ao lado das barracas. Esse hábito também gera uma poluição sonora que, confesso, me deixou um pouco irritado. É muito calypso e aviões do forró pra pouco oceano.

domingo, 1 de agosto de 2010

Saudade mata?

Recentemente vi na tv uma matéria que dizia que saudade em demasia poderia matar. Não sei se saudade mata, pois se ela matasse eu já teria subido o telhado há muito tempo e talvez não estivesse mais aqui para desvelar minhas histórias (amargas?) ou presentear os colegas com os erros do meu português ruim.

Sinto saudade de muita coisa, em geral dos "eternos instantes" que nos mantém vivos. Sinto saudade de ir pra escola em dias de muito frio e apreciar a paisagem da minha cidade, que nesses dias ficava linda. Sinto, também, saudades de imaginar o que estaria fazendo quando tivesse trinta anos. Ficava a pensar em que cidade iria morar, no que estaria trabalhando. Com a mente fértil que tinha, pensava em alguns momentos em ir pra Nasa, em outros eu só queria ter a oportunidade de nada fazer.

Mesmo nos devaneios de uma criança com pouco mais de dez anos, nunca pensei em ser médico, advogado ou engenheiro. Achava que todo mundo queria ser isso e eu tinha de querer algo diferente. De noite de Natal, festa de são joão eu já nem falo, pois essas datas enchem qualquer pessoa de saudade.

Sinto, ainda, muitas saudades da época de faculdade. Fico até hoje lembrando das inúmeras conversas que tecia com mais dois amigos todas às terças-feiras depois da aula de Antropologia. A gente não queria mudar o mundo. O nosso único plano era encontrar um jornal que nos pagasse mil reais. A nossa ambição era quase nenhuma, mas tinhamos um plano.

Mas sinto saudade mesmo é da época que não era notado, que ninguém sabia da minha existência. Sinto saudades do tempo em que a minha opinião ou a minha presença tinha a mesma importância de uma samambaia no canto de uma sala. Hoje percebo que já não é mais assim. Uma simples twittada desse humilde blogueiro em início de carreira, às vezes gera comentários que dariam uma tese. E tudo o que eu mais queria era só responder a pergunta da baleia: o que você está fazendo agora? Bem, agora eu acordo pensando na minha tese de doutorado, almoço lendo textos quase incompreensíveis e durmo de olho na próxima atualização do meu currículo lattes, comemorando como atleta olímpico a cada novo artigo aceito para um congresso. É assim o meu cotidiano, e eu nada posso fazer.

Um colega falou que eu só twitto assuntos que fazem referência ao doutorado ou a coisas que não dizem respeito a ninguém. Mas, ai, eu fico a pensar: o que posso fazer se com pouco mais de 30 anos eu já tenho uma vida academicamente bem resolvida? O que posso fazer se a data do lançamento do próximo clip da Lady Gaga não me traz nenhuma preocupação? Se a data de lançamento da próxima coleção de uma grife famosa não me inspira nenhuma curiosidade? Ou se a vida dos colegas de trabalho não me motivam twittadas em ritmo alucinante? Se a vida de bailarina não é fácil, a de pesquisador e professor universitário, também não.

Isso quando não inventam de fazer mitocrítica daquilo que nem crítica merece. Ai a coisa complica de vez. Tá bom que não sou nenhum candidato ao posto de comediante do CQC, mas a ter uma escrita amarga, já é um pouco de mais. Eu gostaria de escrever sobre um mundo de maravilhas, mas desconheço esse lugar. Além de conhecer a Índia, preciso também comprar um passagem para a Islândia.

Se eu me construo a partir do lugar onde piso, eu só poderia mesmo ser um pouco amargo e ter uma escrita idem. Vejo injustiças sociais desfilarem todos os dias na minha frente. Assisto a coisas horríveis na TV. Moro num país onde a educação é problema, a saúde é um problema maior ainda, segurança, desemprego...é problema social que não cabe aqui. Será que vendo e vivendo isso tudo, eu poderia ver a vida da mesma forma que um habitante de Reykjavík? não dá, desculpa ai.

domingo, 18 de julho de 2010

Do frio que não senti

O peso na consciência que me acompanha todos os dias, resolveu aparecer de novo. Agora, não pelas crianças que passam fome (essas me sensibilizam diariamente), nem pela jovem senhora de mais ou menos 30 anos que hoje jogou uma lata de coca cola pela janela da barca Rio-Niterói e seguiu como se nada tivesse acontecido (dessa eu sinto pena e temo pelo futuro do planeta onde os filhos e netos dela irão viver). Também não foi pelos crakudos que aos poucos tomam de assalto a praça da Cantareira (me acho muito insignificante para resolver o problema deles, mas confesso que toda vez que vejo sinto muita pena).

Hoje de novo me veio aquela sensação de que nunca estou no lugar certo quando as mais fantásticas experiências acontecem. As festas que vou e fui nunca foram as melhores. Mas as que faltei, sempre foram as mais fantásticas, mais descoladas, onde sempre estavam aquelas pessoas que nunca são vistas na noite. Nunca vi os melhores filmes. Assisti muitos, mas nunca aquele que aquela pessoa disse que assistiu e, apartir desse momento, uma nova página na história do cinema começa a ser escrita. Também nunca li os melhores livros, nunca li e nem escrevi os melhores textos.

Agora, não vi a maior onda de frio da história do Acre. Com todo mundo que conversei, o assunto era um só: o Acre era o novo Alaska e eu não estava lá pra ver. Pessoas que nunca tomaram cachaça resolveram colocar o preconceito de lado e se jogar com garra na mardita para aplacar o frio que assolava a Amazônia Sul-Ocidental. Todos os estoques de roupa de frio sumiram como pipoca de cinema no lançamento de filme da saga Crepúsculo. O eixo da terra estava mudando e eu, mais uma vez, não estava como testemunha ocular da história.

Para me recuperar, no entanto, só não quero presenciar a maior onda de calor da história do Acre, o calor de todo dia já me deixa feliz...

Eu não digo eu te amo depois da primeira taça de sorvete haagen daz

Acredito que algumas frases na vida tem o peso de um container. Talvez seja por isso, que eu não costume sair por ai distribuindo "eu te amo". Pode ser um dos inúmeros defeitos que carrego nessa bagagem da vida que já me faz pagar excesso, mas desconfio das pessoas que se autointitulam melhores amigos de infância desde a época que brincavam de massinha depois da primeira taça de sorvete ou de três ou quatro chopps.

Não acredito no riso muito fácil, nem nas declarações de amor que são cópias de cartões do smilinguido. Depois de 35 anos, minha cápsula protetora resistiria uma ida à lua, quanto mais uma falsa verdade dita com a cara de uma mentira completa. Assim como engenheiro acredita na base sólida do prédio, acredito que qualquer relação, incluíndo as de amizade, são construídas com o tempo, com a vivência de certas experiências que só com o tempo você pode guardar na memória.

Não sei bem porque, mas sinto que nem todas pessoas estão preparadas para dizer "eu te amo, meu amigo" de forma verdadeira. Acho, até, que algumas pessoas deveriam ser proíbidas de falar por ai tal frase. Quando você distribui um "eu te amo" numa hora indevida, quando chegar a hora certa ele já não terá siginificado, perderá o valor.

Nessa minha peleja dolorosa, tratando as palavras como "peixes abissais", vejo muito peso no que falo e ouço. Algumas frases não podem ser desgastadas. Dizer eu te amo não é como pedir um pãozinho na padaria de manhã ou trocar de camisa quando ela não combina com a calça.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Só pra constar: eu não sei falar do cosmos

O meu silêncio constante ganha contornos de silêncio de ginasta russo antes da competição de trave, quando o assunto ao meu redor começa a gravitar em torno do cosmos. Eu já tentei, já fiz cara de conteúdo, mas não dá. Se no meio de uma cerveja, o camarada ao lado começa a falar que existe uma energia que emana das ruínas de Marte e quando se encontra com os anéis de Saturno produz uma força cósmica que explica a nossa existência na terra, eu me calo ad infinitum.

Começo a acreditar que preciso me espiritualizar mais. Quem sabe virar produtor cultural, assessor de imprensa de um astrólogo famoso, mas algo precisa ser feito. Eu preciso acreditar que quando você sai de casa e vai para um bar, é culpa do cosmos. Ou quando o preço do tomate sobe, também é culpa do cosmos. Que esse tal de cosmos também tem culpa quando o saldo da sua conta corrente fica negativo, algo que sempre acontece a partir do décimo dia do mês. Posso não conhecer esse camarada, mas pelo visto ele tem uma disciplina digna de registro.

Talvez eu não queira mesmo é me aproximar de quem fala do cosmos. Quem tenta explicar tudo pelo cosmos. Essas pessoas parecem fugir de alguma verdade colocando a culpa nesse pobre coitado que às vezes não tem culpa de nada, mas é culpado por tudo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Porra, tô feliz pakaralho com o futuro da humanidade

Passeando pelas ruas do Rio, às vezes me sinto navegando por um mar de palavrões. Em todo esquina que passo, em toda rua que ando, é uma profussão de porra e caralho que deixaria envergonhado os mais puritanos. Já percebi, nesses quatro meses, que o carioca fala palavrão com a mesma recorrência que deputado fala vossa excelência durante sessão na câmara dos deputados ou professor universitário usa vossa magnificência para se referir a reitor.

Percebo, que por aqui, ninguém é amigo, aqui o cara só é amigo quando é amigo pakaralho. Aqui a festa nunca foi simplesmente boa, aqui ela só é boa quando é boa pakaralho. Aqui você só está feliz, quando tá felizpaporra. A aula só é considerada boa, quando você sai e diz: porra, que aula boa. Isso quando três ou quatro palavrões não resolvem fazer parte da mesma frase, algo que também é comum, e ai você deixa de ser um simples amigo e vira um filha da puta amigo pakaralho.

Aqui no Rio, tenho a sensação que você pode fugir de uma bala perdida (confesso que nunca vi, e acho, por enquanto, que isso é criação de roteirista da Globo. Também não quero encontrá-las na próxima esquina), escapar de um assalto (esses já tive o desprazer de presenciar e continuo preferindo assistir a jogos da Copa do Mundo), procurar um atalho e fugir dos principais pontos de congestionamento da cidade, mas de ouvir palavrão pelo menos 100 vezes por dia, disso você não escapa.

Talvez seja pela quantidade de palavrões que o carioca expele diariamente, que ele seja tão feliz. Apesar do trânsito caótico, das cenas de violência e da vida agitada que o torna cego diante das belezas da cidade, o que ele quer mesmo é ver o expediente acabar. A partir desse momento, ele deseja apenas dividir uma cerveja na calçada de algum boteco e passar horas falando sobre a história de algum time de futebol com algum filha da puta amigo parakalho. Quem sabe, ainda, contar detalhes de um samba de raíz pra um filha da puta amigo pakaralho, que não entende porra nenhuma de samba.

domingo, 4 de julho de 2010

Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar

Nesse 35 anos de vida, a ansiedade tem sido uma marca constante da minha personalidade. Na ânsia de chegar mais rápido, sempre criei atalhos. Esqueci de curti a beleza da paisagen e me fixei apenas no ponto onde devia chegar, de preferência antes da hora marcada com o destino.

Parece que não tinha tempo de esperar a água secar na areia da praia para poder escrever meu nome. Agora que conheci os versos da música Timoneiro, de Paulinho da Viola, tenho repensando se vale apena lutar contra o tempo do tempo, quando essa será uma batalha onde o tempo sempre será o vencedor.

Não queria mais me navegar, mas deixar que o mar me navegasse. Mas ainda não sei como funciona o tempo da mudança. Na verdade, eu não sei como funciona o tempo, esse meu adversário constante em maratonas de longa e curta distância, contra o qual eu ainda não sei se coleciono mais vitórias ou derrotas.

sábado, 3 de julho de 2010

O elefante, a formiga, o Afeganistão e as metáforas que não consigo produzir

Se tem um tipo de gente nessa vida que merece o meu respeito, é quem consegue formular metáforas que suscitam a nossa curiosidade, mas pouco nos dizem. Acredito que esse dom seja para pessoas iluminadas, e ainda não consegui atingir esse nível de encantamento.

Fico intrigado com quem escreve, num mesmo texto, sobre o equilibrio desenvolvido de elefantes que habitam uma nação pouco conhecida da África e o avanço no consumo de livros de física quântica entre os estudantes do curso de Terapia Ocupacional. Eu não conseguiria, e admito a minha total incapacidade.

Talvez me falte mais cultura geral para atingir esse nível de produção em estado metafórico. Talvez seja pelo fato de nunca ter ido à Índia ou não ter visitado uma antiga república Soviética. Talvez tenha convivido pouco com um grupo Hare Krishna. Acredito, ainda, que pode ser pelo fato de ter assistido a poucos filmes iranianos ou não ter me envolvido como devia com a única música de origem afegã que ouvi.

Talvez possam ser outras coisas. Por isso, vou buscar ver agora os verdes campos do pampa gaúcho se cruzando com o azul do mar de Niterói. Tem gente que diz está vendo. Eu não vejo nada. Talvez esteja cego para isso e para tudo o que  às pessoas conseguem ver, menos eu.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Da arte de perder um feriado

Nessa vida, admito perder muita coisa. Já perdi livros e não chorei. Cds, discos, óculos, e me recuperei bem. Mas, para um bom brasileiro, perder um feriado é como perder alguém da família. É no nosso calendário com mais de um feriado em todos os meses do ano, que nós mostramos o quanto somos orgulhosos de termos nascido nessa terra abençoada por Deus e bonita por natureza.

Nós gostamos em ritmo alucinante de dias de ócio, regados a cerveja, churrascos e idas à praia. Não deveriamos nos aposentar por tempo de trabalho, poderiamos tranquilamente pedir aposentadoria por tempo de uso de havaianas, assim como já defendeu o Zé Simão.

O Brasil perdeu. Continua sendo penta e vai esperar mais quatro anos para virar hexa. Talvez essa não fosse mesmo a copa ideal para o Brasil ser campeão. Com o Galvão Bueno rouco, o grito de hexa não ficaria muito bem.

Terça-feira será um dia normal de trabalho. Os bares estarão mais vazios, as ruas menos verdeamarelas e o barulho das vuvuzelas cessarão a partir de hoje, para nunca mais voltar.

Isso foi uma puta sacanagem que a seleção fez conosco. Não precisava ser campeã, mas bem que poderia chegar até à final. A vida estava tão boa com as semanas mais curtas...

Nossos ídolos não são os mesmos e as aparências enganam

Aos poucos tenho me convencido que sou um descrente. Confesso, mesmo, que diante de tanta coisa que desafia a minha pouca inteligência, a descrença é o melhor dos artifícios. É como sobreviver na selva com apenas uma garrafa de água para passar quinze dias. Não posso me deixar corromper com brutalidades nos mais diferentes campos, e que parecem olhar pra mim e dizer: seu idiota, nós estamos aqui e você vai ter que nos engolir.

Eu não posso acreditar, por exemplo, que a Britney Spears é considerada cantora. Isso fere profundamente o meu código de ética, que classifica cantoras como aquelas mulheres de vozes potentes e produtoras em série de músicas ideais para ouvir entre uma cerveja e um petisco, vide Ana Carolina, Maria Gadú e Angela Roro, e que no campo dos relacionamentos transitam pelo universo do masculino e do feminino, com a mesma desenvoltura que pinguim caminha sobre o gelo.

Não posso, também, acreditar em horóscopo. Me recuso terminantemente em acreditar que hoje, por exemplo, o número da sorte é 17 e a minha cor é azul royal. Isso me soa como previsão de cartomantes do centro do Rio de Janeiro, que dizem nada com coisa nenhuma a partir do que você quer ouvir. Não acreditaria em horóscopo, mesmo lendo, nem que os astrológos me explicassem o seu complicadissimo e super fundamentado teoricamente método de trabalho.

Outra coisa que não consigo acreditar, é que cerveja preta é coisa boa. Comigo não rola. Cerveja tem que ser cerveja, loirinha, gelada e com uma fina camada de véu. Cerveja preta não é cerveja. E sobre isso eu não discuto, costumo chamar o garçon e pedir a conta.

P.S Em momentos onde só o álcool responde, o blogueiro já dançou ao som de Britney Spears e tomou cerveja preta, mesmo sem aprovar nem a música da Britney Spears e nem a cerveja preta. Como humano que é, ele corriqueiramente dá uma lida no horóscopo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A expansão dos cabelos brancos e a falta de dedos

Nos últimos tempos, tenho me dedicado com afinco a tarefa helênica de decifrar os enigmas que cotidianamente são apresentados pelos meus cabelos brancos. Durante uma longa fase da minha vida, os contei apenas nos dedos de uma mão. Com o passar dos anos só era possível realizar essa tarefa, que atesta a passagem do tempo, juntando os dedos das duas mãos.

Lembro, ainda, que durante muitos anos, dissimuladamente fingi ser possível contar com os dedos das mãos aquilo que só era possível contar se fossem utilizados os dedos das mãos e dos pés. Mas hoje já não sei mais como contar. Eles estão ai e a cada dia em maior número.

Sinto que eles querem dizer alguma coisa, passar alguma mensagem, mas ainda não fui suficiente inteligente para captar. Talvez eles estejam querendo mostrar tudo o que vivi durante esses 35 anos. Talvez tenha vivido demais, viajado demais, bebido demais, estudado demais, feito tudo em demasia. Mas custo a acreditar nessa hipótese. Nunca fui dos superlativos.

No índice de catalogação da espécie humana, sempre fui classificado como comedido e parcimonioso. Nunca acreditei em quem faz tudo em demasia. Alegria demais é uma coisa que abomino. Pra mim, quem é alegre demais o tempo todo está sentindo aquilo que Roberto Carlos define como "alegria triste".

Anacarolinamente falando, acho que eles estão querendo me mostrar que talvez eu devesse deixar de olhar o rio por onde a vida passa e tentar fazer a travessia, mesmo sem saber o que vou encontrar na outra margem.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Da teoria das relações

Psicólogos, antropólogos, sociólogos e todos os outros “ólogos” que constam no cadastro internacional de profissões, se  ocuparam ao longo da história da humanidade em discutir teorias que expliquem o fim das relações de amor, aquele momento aonde o sim sorrateiramente vai virando não.

Afeito que sou em formular teorias com o mesmo rigor cientifico daquelas que mostram que mulheres compram mais sapatos porque fazem as unhas dos pés e homens compram menos sapatos porque deixam a unha do dedão crescer, também formulei o meu pensamento sobre esse momento delicado. Acho que o problema está no pé.

Se numa noite de frio, os parceiros não se esforçam para se aquecer trocando carinhos pelo pé, é uma mostra que estão dançando sobre os destroços já faz um tempo. Porque quando o pé se separa em noites de frio, é sinal que a cabeça, o peito, o coração, a mão e o corpo todo já se separou faz muito tempo.

Não que esteja supervalorizando essa parte tão desprestigiada da anatomia humana, que só é lembrada quando um calo resolve aparecer ou uma unha encravada mostrar o seu poder de fúria. Não que eu seja um exímio representante na arte de se doar ao outro. Meus amigos dizem que sou frio e também acho que nunca faria versos como os de João Gilberto, que já falou “que há mais peixinhos a nadar no mar do que beijinhos que darei na sua boca”. Meu terreno não é mesmo o do “amor eterno, amor verdadeiro”. Mas tenho aprendido em muita pós-graduação feita em mesa de bar, a interpretar os sinais que o corpo teima em mostrar, mesmo quando não queremos ver.



domingo, 27 de junho de 2010

Da vida que eu queria ter

Eu queria ter nascido mais bem diagramado, mas não deu. Acho que tenho um nariz que não passaria em nenhuma inspeção de controle de qualidade e um pé digno dos melhores estivadores. Queria ter nascido também com uma voz mais bonita, daquela que fica bem até quando você fala uma palavra horrorosa como Jabulani.

Queria, ainda, ter um índice de gordura corporal igual a de corredores de 100 metros rasos na luta por medalha de ouro na final das olimpíadas, mas também não deu. A combinação de doses cavalares de cerveja e petiscos em escala industrial me impede de ter um corpo de modelo que sai na capa da revista Mens Health.

E também não deu pra muita coisa. Também não nasci poeta, cantor, ator, bem como não aprendi a tocar um instrumento, dirigir e nem andar de bicicleta. Nasci um cara simples e descoordenado. Daquele que usa óculos, jeans e camisa pólo pra não dá muito trabalho na hora de escolher a roupa. Assim como mantenho o mesmo corte de cabelo há quase duas décadas.

E ai, é onde acho que está a grande graça. Nessa sociedade onde todo mundo quer ser estrela, quer ser BBB, quer quinze minutos de fama, faltam pessoas simples, que andem por ai prestando atenção em cores que não sabem o nome ou que não estejam em busca daquilo que foge das mãos e às vezes não conseguimos alcançar, assim como as palavras nos fogem quando escrevemos um texto. Faltam pessoas que sejam especiais dentro do seu silêncio que fala ou dentro de sua timidez exuberante.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Se você quiser eu posso tentar, mas eu não sei dançar pra te acompanhar

Depois de muitas experiências empíricas, tenho construído uma teoria que mostra que o número de pessoas que você pega na noite é proporcional a sua capacidade de dançar. Dança bem, pega todo mundo. Não dança, volta pra casa sozinho com cara de quem vai tomar mais duas cervejas e ouvir Alcione cantando ¨A Loba” para a vontade de dar aquela ligação que só os bêbados dão ocorrer mais rapidamente.

E no quesito dança eu não passei da educação infantil, ainda não aprendi a brincar de massinha. Não sei se é o meu corpo de estrutura esquizofrênica, onde mora uma cabeça latino americana e uma cintura escandinava que me torna um inapto para aprender a dançar. Mas é fato que sou um vexame. As poucas tentativas foram frustradas. Vi olhares de soslaio, alguns sorrisos entremeados por gargalhadas e uma ou duas pretensas presas que se afastaram na velocidade de um carro de fórmula de 1.

A minha matemática da dança não consegue sincronizar dois pra lá dois pra cá. Comigo é dois pra lá e um pra cá, sempre. O que sempre me faz ouvir aquela frasezinha vagabunda: “você dança de um jeito diferente”. O problema é que eu não danço “de jeito diferente”. O problema é que eu não sei dançar!

Eu sei outras coisas. Mas as coisas que sei demoram muito tempo para serem mostradas. Eu conheço uns dois conceitos de Gramsci, conheço um pouco da vida de Bourdier, estou mantendo uma relação super próxima com Paulo Freire, sei falar um pouco sobre o conceito de fetiche e mercadoria em Marx. Mas para que serve isso, se eu não sei dançar?

Se no meio da pista o cidadão tentar discutir o conceito de estado ampliado em Gramsci, é capaz da pretensa presa perguntar se a pessoa esqueceu de tomar o tarja preta antes de sair de casa. Agora...se você decorou a última coreografia da Lady Gaga, é capaz de você ser alçado ao olimpo dos deuses da pista de dança, aqueles para os quais sobram presas e falta um pouco de simancol.

Ode à solidão

Andar em caravana é algo que não faz parte do meu cotidiano. É muita gente falando, muito ego pra gerenciar, muita gente querendo falar ao mesmo tempo e pouca gente querendo ouvir. Estar só, não é ficar só. É, partindo de você, estar com todos. E isto são poucas as pessoas que conseguem entender.

Nos últimos tempos venho percebendo o quanto a minha opção de andar por ai trocando passos com a solidão incomoda algumas pessoas. É como se gostar de ficar só fosse um desvio de caráter incurável, digno de ser comparado com os crimes da motosserra. Gosto de caminhar, estudar, assistir filme, tomar cerveja, geralmente sozinho. Me sinto bem fazendo parte do clube “do eu sozinho”. E é só isso...

Sem pausa...

Poucas pessoas admitem os problemas que tem com a língua portuguesa. A falta de traquejo é colocada pra debaixo do tapete por pura arrogância ignorante ou por achar que o problema de falar “probrema” é meu e ninguém tasca. Desde que me entendo por gente, e isso faz muito tempo, tenho uma relação conflituosa com as vírgulas. Não que as ache desinteressantes ou esteticamente incompatíveis com o meu padrão de beleza para sinais ortográficos. Prefiro, claro, o equilíbrio do trema e do dois pontos, mas as paixões ficarão para um outro post.
Meu problema com as vírgulas nascem na hora de colocá-las. Respirar, pausar e atirar uma vírgula quando ela pede ou quando o texto ou quando tudo pede e eu não consigo ver, ainda me é uma tarefa difícil.
Acho engraçado quando uma pessoa diz que No meu texto está faltando vírgula. Próxima vez vou responder que o Saramago não usava ponto e bombava na lista dos mais vendidos. Mas o Saramago é o Saramago, e isso não pede vírgula, mas ponto.
As vírgulas são usadas corriqueiramente e ai fica mais fácil de errar. Um deslize aqui, outro deslize ali, e muitos casamentos acabam. Assim é também com as vírgulas. Falta uma vírgula aqui, outra vírgula ali, e pronto, não tem regra da ABNT que salve a sua tese de doutorado, dissertação de mestrado ou até um textinho pro blog.

Do tempo que eu era criança ll



O papel não tem cheiro. Mas se tivesse, gostaria que hoje fosse de pamonha, canjica, milho cozido, entre outras delícias das festas juninas e que tanto marcaram a minha infância. Nascido numa cidade que se orgulha de realizar o Maior São João do Mundo, com uma mãe festeira e que faz aniversário na véspera de São João, me recordo muito de como começava o dia 23 de junho na minha infância. Era de festa, mas na minha casa tínhamos era muito trabalho. Era descascar o milho, moer, raspar, misturar com coco, com leite, com canela, era uma profusão de cheiros e sabores, que nós, as crianças, só esperávamos com ansiedade a hora de provar. Era um ritmo de trabalho frenético, embalado por músicas juninas que ainda hoje me trazem muitas recordações.

Durante todo o dia, os “meninos” eram responsáveis por realizar as pequenas tarefas. Era ir à mercearia, na casa de um vizinho, chamar alguém para resolver um pequeno problema. Hoje vejo que era mais trabalho que festa. Mas fazíamos tudo com muita alegria, já que na minha casa a noite de são João era a mais esperada do ano. Para essa noite a casa ficava arrumada, cortinas novas eram compradas, meu pai pintava a casa, nós esperávamos com muita ansiedade a noite de 23 de junho. Nos fios que ajudam a construir a minha memória, lembro de como era bonito ver os balões no céu e, de longe, as luzes que iluminavam o Parque do Povo, local onde se realiza a “maior festa de são João do mundo”, que pela pouca idade eu ainda não freqüentava à noite.

No final da tarde era a hora de preparar a roupa nova, esperar a família toda ficar reunida e acender a fogueira. Gostava muito de ver a rua toda iluminada pela chamas das fogueiras e ficar brincando ao seu redor, mesmo sem saber que estava desafiando o perigo. Lembro, ainda, que as fogueiras deixavam um cheiro forte na roupa e os olhos irritados, o que fazia muita criança chorar. Quando dava 10 horas da noite era a hora de jantar, mas em geral não comia muito por já ter beslicado o dia todo.

E durante toda a noite, a rua ficava cheia, as pessoas muito animadas. Em cada casa uma música, em cada casa uma festa, e assim a festa seguia por toda madrugada. Alguns dizem que é o no período de São João que o nordestino é mais nordestino. Concordo com quem formulou a frase. Só sabe a importância da festa junina quem mora no Nordeste, queM aprendeu esperar o tempo de chuva, o tempo do milho, o tempo da bonança.

* Texto apresentado à professora doutora Iduina Moltalverne, da disciplina Memória e Narrativa, do curso de Doutorado em Educação da Universidade Federal Fluminense

Do tempo que eu era criança l




Acho que é quase impossível passar pela vida sem levar na memória lembranças de um professor que marca a nossa história. Em geral, são os professores das séries iniciais os que mais nos marcam. Não sei que caminho teria trilhado se o meu caminho não tivesse cruzado com o da professora Maria do Carmo na segunda série. Estudei na Escola Roberto Simonsen, que fazia parte do sistema S. Escola rígida, que respeitava as datas cívicas e possuía uma excelente qualidade de ensino. Passei quatros anos de muito aprendizado e ricas experiências nessa escola que nunca esqueci.

Assim como hoje, gostava muito de dormir, e o meu desempenho não foi tão brilhante. Mas a seriedade e a brabeza da professora Maria do Carmo me marcaram profundamente. Lembro que quando a víamos de longe, com aqueles sapatos que, para nós, faziam um barulho aterrorizante, todos ficávamos comportados, verdadeiros anjos na terra. O tom de voz alto da professora era capaz de calar até nossos pensamentos. Mas ela também era carinhosa, preocupada com o nosso desempenho. Sempre conversava conosco na busca de saber o que estava acontecendo, e gostava ainda do temido encontro com os nossos pais. Esse encontro sempre acontecia quando algo não ia muito bem. A professora não era o que podemos classificar como uma pessoa doce, mas era muito humana.

Reencontrei com a professora Maria do Carmo na quarta série e nessa época me tornei uma espécie de braço direito. Como tirava notas muito boas e estava sempre a par dos assuntos que seriam discutidos, ela sempre me convocava para falar primeiro, sempre que precisava de algo recorria a mim, eu me orgulhava muito, mas uma parte da turma não olhava isso com bons olhos. Lembro que nessa época, como passei a estudar a tarde, meu desempenho era muito melhor que na segunda série do período matutino. Ao final do ano, a professora reconheceu o meu empenho e ainda me presenteou com o prêmio de melhor aluno que a escola oferecia todos os anos. Muito do meu avanço se deu pela forma seria como a professora Maria do Carmo conduzia o seu trabalho e do exemplo que ela era para seus alunos, dentro de sua brabeza afetuosa.

* Texto apresentado à professora doutora Iduina Moltalverne, da disciplina Memória e Narrativa, do curso de Doutorado em Educação da Universidade Federal Fluminense