terça-feira, 24 de agosto de 2010

Carta nº2

Querid@as leitor@as

Venho informar que não as esqueci e nem deixei de escanteio o meu desmemoriado blog, mas devo confessar que os dias não estão fáceis. Os dias difíceis colaboram para que a minha pouca criatividade desapareça de vez. O calor que faz em Rio Branco também prejudica o meu roto cotidiano. Tenho passado tanto tempo tomando água e banho que falta tempo para outras coisas. A fumaça que tem tirado o sossego dos acreanos, também tem me deixado irritado. Talvez ela esteja me impedindo de ver ao longe. Nesse momento era tudo o que eu queria.

   Termino por aqui, prometendo voltar e esperando dias mais felizes e temperaturas mais amenas
 Wagner

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Carta n° 1


Sinto que estou precisando voltar a escrever cartas. Talvez esteja precisando dividir, em um mundo que não está acostumado com isto. E, é assim, reconhecendo minha necessidade, que começo a minha primeira carta para 7 declaradas leitoras (se bem que, talvez, nem todas frequentem minha morada virtual todos os dias). Quero dividir com vocês, minhas primeiras vivências na volta ao Acre.

Entre afagos verdadeiros e outros nascidos sob o signo da vida profissional, começo a me (re)pertencer ao lugar de minha morada física.  Freire nos ensina que é onde pisamos que nos formamos. Concordo com o nobre barbudo, pois sinto que tenho me construído bem no espaço que me acolheu. Hoje, voltei pra casa feliz, uma  coisa que nem sempre acontece.

Gostei de ver o sorriso no rosto de alguns alunos ao me reencontrar, em claras demonstrações de carinho. Vi que, a minha opção por não dar aula, mas compartilhar histórias de vida, tem me aproximado de muitos e, para minha sorte, me distanciado de poucos. Talvez minhas escolhas teoricasmetodológicas (quanta pretensão?!) tenham me distanciado dos que realmente devesse ficar longe. Penso, ainda, que muitos dos meus alunos ainda desejam encontrar na universidade uma prolongação da escola, coisa que acho muito pouco.

Vejo a universidade como espaço de experiências, onde você pode caminhar, às vezes se perder, em outras se encontrar para, quem sabe lá na frente, se perder e se encontrar de novo. Mas muitos são por demais
novos, e preferem apenas se encontrar, sem dá uma oportunidade ao acaso. Entendo que se deixar afetar pelas surpresas, é mesmo uma tarefa difícil. Um  caminho de pedras não é para ser percorrido por qualquer um, a maioria deseja apenas um caminho de brisas...coisa que nem sempre é possível. Mas, repito, eles são jovens.

Meus 35 anos me deixaram marcas, me ensinaram lições e, nos desenhos de uma mal escrita cartilha de caligrafia, continuo a acreditar em outro mundo. Talvez que não seja mais escrito por nós, mas por aqueles que formamos. Um mundo que, de preferência, tenha pessoas mais conscientes, para que a gente não precise sofrer tanto com a fumaça que nessa época do ano muda a rotina do povo acreano.

Termino aqui acreditando, sempre, que o amanhã será melhor

Wagner

domingo, 15 de agosto de 2010

Da janela da alma

A minha amiga Nádia Falcão, futura professora doutora da Ufam, me confessou que dá boas gargalhadas ao ler o meu desmemoriado blog. Fico feliz em fazer à Nádia sorrir. Sei que, apesar dela ser uma das melhores pessoas que conheci em 2010, ela é obrigada, em certos momentos, a ver e ouvir coisas que não gostaria.

Apesar de não ser cantora/modelo/atriz, Nádia habita um espaço onde a vaidade é regra. Onde se fala sem saber direito o que se está falando, pelo simples prazer em se fazer notar. Tanto eu como a Nádia estamos fora dessa.

Nós gostamos mesmo é de apreciar a bela paisagem que nossa “particular janela” nos propicia. Nós curtimos ver o céu surgir azul, em manhãs com um calor que convida para uma ida à praia, mesmo sem a gente poder ir. De ver o movimento da barca. Nós gostamos de dividir momentos de silêncio, nossa particular e bem sucedida estratégia de defesa. E, mais que tudo, nós gostamos de fazer análise sobre os outros, mesmo sem título de psicólogo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Escolhendo sem saber escolher. Mudando sem saber mudar

Eu sou o tipo de pessoa que não gosta de a todo tempo está fazendo escolhas. Acho que nunca faço as corretas e, quando faço, ainda me resta dúvida. Vida boa é a de criança, que só aponta com o dedo o que quer e tem a decisão como tomada. Sem esse negócio de contar até dez, de pensar nas consequências, nem fazer balanço de perdas e ganhos.

Talvez seja pela dificuldade em escolher, que tenho tanta dificuldade para fazer malas. Não sei escolher entre o passado que vira futuro e aquele passado que, foi presente e pra sempre será passado. O conceito de passado elástico não me entra pela cabeça. E como escolher as lembrança que irão ocupar aquela imensa gaveta das memórias? Aquela que fica escondida, em silêncio, sem causar nenhuma tensão, mas que de repente surge ou ressurge mostrando o seu poder para nos tirar do caminho que tentamos seguir sem sobressaltos. Nossa sorte é que a bagagem das lembranças não paga excesso de peso.

Como escolher do vivido aquilo que ficará para trás? Como apagar aquilo que está na pele como tatuagem? Como tirar poeira daquilo que fica melhor escondido entre as inúmeras apostilas do tempo de faculdade? Viver, infelizmente, não é como escrever um texto. Os professores de redação nos ensinam a escolher as palavras menores, a tirar os adjetivos, a escrever parágrafos curtos. Mas o movimento de escolha que a vida nos impõe não permite regras tão objetivas

Neurath nos diz que mudar a teoria, em uma pesquisa, é como reconstruir um barco, tábua a tábua, em alto mar. Talvez fazer mudança seja isso: juntar lembranças, uma a uma, vivendo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pagando uma dívida com São Luis do Maranhão


De todas as capitais do Nordeste, até a última quinta-feira eu conhecia sete. Já tinha me encantado com as belezas de Recife, me deixado seduzir pelos encantos de Maceió, vivido  inesquecíveis dias de férias em Fortaleza e me deixado levar pela vida calma de Aracajú. Também já morei em Natal e João Pessoa. Depois de um périplo regado a muito sol e praias pelas capitais nordestinas, ainda não tinha visitado Teresina e São Luis e tinha que saldar essa dívida.

A capital do Piauí não possui praia, o que nunca me insitigou a visitá-la. Talvez tenha que encontrar um congresso para conhecer o estado. São Luis me parecia distante, meioNortemeioNordeste, mas despertava e muito minha curiosidade. E foi munido de pouco dinheiro e muita curiosidade que rumei para a capital dos maranhenses.

Sinto que demorei muito para conhecer o Centro Histórico da cidade. As fachadas revestidas por azulejos portugueses são encantadoras. As ruas apertadas e cheias de turistas estrangeiros munidos de máquina fotográfica são um passeio que lembram um labirinto cheio de histórias, com desbravadores que exploram um lugar pouco conhecido pelos próprios brasileiros.

As praias não são tão bonitas quanto as de Alagoas ou do Rio Grande do Norte, mas a água é de temperatura agradável e convidam para um banho de mar. A cerveja no Reviver deve ser tomada como se fosse um ritual. Deve-se apreciar a boemia do local e a história que a todo momento desfila para nossos olhos.

Fiquei encantado pela forma como o Maranhese da capital defende sua cultura. Fui para uma festa chamada de "a morte do boi". O evento marcava o fim das comemorações do período junino, que no estado tem no bumba meu boi sua maior representação. De morte a festa não lembrava nada e só acabou nos primeiros raios de sol.

Achei interessante o tal do refrigerante Jesus. Um suco de groselha que vende mais que coca cola. Confesso que não aprovei o sabor, mas os ludovicenses tem o Jesusinho como uma religião. Os maranheses também possuem a estranha mania de levar os carros para dar uma volta na areia da praia. Vi inúmeros carros ainda sem placa estacionados ao lado das barracas. Esse hábito também gera uma poluição sonora que, confesso, me deixou um pouco irritado. É muito calypso e aviões do forró pra pouco oceano.

domingo, 1 de agosto de 2010

Saudade mata?

Recentemente vi na tv uma matéria que dizia que saudade em demasia poderia matar. Não sei se saudade mata, pois se ela matasse eu já teria subido o telhado há muito tempo e talvez não estivesse mais aqui para desvelar minhas histórias (amargas?) ou presentear os colegas com os erros do meu português ruim.

Sinto saudade de muita coisa, em geral dos "eternos instantes" que nos mantém vivos. Sinto saudade de ir pra escola em dias de muito frio e apreciar a paisagem da minha cidade, que nesses dias ficava linda. Sinto, também, saudades de imaginar o que estaria fazendo quando tivesse trinta anos. Ficava a pensar em que cidade iria morar, no que estaria trabalhando. Com a mente fértil que tinha, pensava em alguns momentos em ir pra Nasa, em outros eu só queria ter a oportunidade de nada fazer.

Mesmo nos devaneios de uma criança com pouco mais de dez anos, nunca pensei em ser médico, advogado ou engenheiro. Achava que todo mundo queria ser isso e eu tinha de querer algo diferente. De noite de Natal, festa de são joão eu já nem falo, pois essas datas enchem qualquer pessoa de saudade.

Sinto, ainda, muitas saudades da época de faculdade. Fico até hoje lembrando das inúmeras conversas que tecia com mais dois amigos todas às terças-feiras depois da aula de Antropologia. A gente não queria mudar o mundo. O nosso único plano era encontrar um jornal que nos pagasse mil reais. A nossa ambição era quase nenhuma, mas tinhamos um plano.

Mas sinto saudade mesmo é da época que não era notado, que ninguém sabia da minha existência. Sinto saudades do tempo em que a minha opinião ou a minha presença tinha a mesma importância de uma samambaia no canto de uma sala. Hoje percebo que já não é mais assim. Uma simples twittada desse humilde blogueiro em início de carreira, às vezes gera comentários que dariam uma tese. E tudo o que eu mais queria era só responder a pergunta da baleia: o que você está fazendo agora? Bem, agora eu acordo pensando na minha tese de doutorado, almoço lendo textos quase incompreensíveis e durmo de olho na próxima atualização do meu currículo lattes, comemorando como atleta olímpico a cada novo artigo aceito para um congresso. É assim o meu cotidiano, e eu nada posso fazer.

Um colega falou que eu só twitto assuntos que fazem referência ao doutorado ou a coisas que não dizem respeito a ninguém. Mas, ai, eu fico a pensar: o que posso fazer se com pouco mais de 30 anos eu já tenho uma vida academicamente bem resolvida? O que posso fazer se a data do lançamento do próximo clip da Lady Gaga não me traz nenhuma preocupação? Se a data de lançamento da próxima coleção de uma grife famosa não me inspira nenhuma curiosidade? Ou se a vida dos colegas de trabalho não me motivam twittadas em ritmo alucinante? Se a vida de bailarina não é fácil, a de pesquisador e professor universitário, também não.

Isso quando não inventam de fazer mitocrítica daquilo que nem crítica merece. Ai a coisa complica de vez. Tá bom que não sou nenhum candidato ao posto de comediante do CQC, mas a ter uma escrita amarga, já é um pouco de mais. Eu gostaria de escrever sobre um mundo de maravilhas, mas desconheço esse lugar. Além de conhecer a Índia, preciso também comprar um passagem para a Islândia.

Se eu me construo a partir do lugar onde piso, eu só poderia mesmo ser um pouco amargo e ter uma escrita idem. Vejo injustiças sociais desfilarem todos os dias na minha frente. Assisto a coisas horríveis na TV. Moro num país onde a educação é problema, a saúde é um problema maior ainda, segurança, desemprego...é problema social que não cabe aqui. Será que vendo e vivendo isso tudo, eu poderia ver a vida da mesma forma que um habitante de Reykjavík? não dá, desculpa ai.