quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sobre aspiradores de pó e outras coisas


       Durante os meus mais de 30 anos aprendi a fazer muitas coisas. Já escrevi duas monografias, uma dissertação de mestrado e meia tese de doutorado. Aprendi, também, a escolher meias, tarefa tão complicada quanto escrever tese.  Mas, mesmo assim, me falta habilidade para realizar as mais prosaicas atividades do nosso cotidiano.
Admiro muito, por exemplo, todas as pessoas que sabem ler um cardápio. Acho fantástica a cara de quem ganha como um gari e se comporta como um Eike Batista quando o assunto é colocar óculos, distanciar o cardápio, olhar se tem um amigo próximo e, no final, pedir uma água mineral. 
Também nutro um certo respeito por todos os seres iluminados que trocam cartuchos de impressora como se essa fosse uma atividade a ser praticada com tranqüilidade por todo aluno da educação infantil.. Confesso que não sei trocar cartucho de impressora.
Nos últimos dias tenho me dedicado a atividade paralela de domar um aspirador de pó ensandecido. Quando pensei que já tinha passado por tudo nessa vida, me surge esse aspirador de pó. Devo ressaltar que o comprei por uma carência emocional mais pura do que whisky escocês. Olhei o catálogo de promoções do Americanas.com  com a dedicação de um ginasta chinês e vi que nada nele me faltava. O que faltava ele não tinha.
Comprei o aspirador pensando que seria algo fácil de usar, mas vi que o mundo é complicado, as pessoas são más e os aspiradores de pó são seres indomáveis que tem pouca utilidade. Não nasci para os aspiradores de pó. Assim como não nasci para o motivo maior desse post...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sobre qualificações, BBBs e paixões fora de hora

      Faltam-me frases para começar um texto. Todas as palavras que habitavam minha cabeça foram colocadas no texto de qualificação da minha tese de doutorado. Aliás, penso eu, que depois de exatas 109 páginas, carregadas de poesia (sim, meu grupo de pesquisa cobra poesia. Acho que por isso escrevi algo que me orgulho) tenho um texto de qualificação.
    Um texto que em pouco tempo será avaliado por 5  "pós/hiper/mega/uber doutores" e, desde já, sei que vão massacrá-lo, assim como o time de basquete dos Estados Unidos faz quando joga contra Angola, algo do tipo, 220 x 49. Mas fiz o que me pediram. Li uma porrada de caras que gostei, outros foi pura obrigação. Tomei uma porrada de cerveja skol beats pra escrever. Teci fios, construi redes, procurei entender a tessitura...eu só queria qualificar. Sei que mereço.
     E a tarefa não foi fácil!
No meio ainda me ainda aparece um BBB. Assim como tenho uma queda por uma cerveja, tenho uma certa fixação em reality show (não faço standup, mas poderia dizer coisas ótimas sobre o que vejo nesse tipo de programa. Da mistura de gente super malhada, pouco inteligente e feliz em demasia, o que poderia mesmo sair? Um standup em ritmo alucinante. Pobres comediantes que  não sabem entender uma piada pronta...)
      Sobre paixões eu não falo porque é vida particular. Vai que um dia me torne um BBB?

sábado, 29 de janeiro de 2011

Sobre fugas e ossos quebrados


A felicidade bateu a minha porta. Eu sei que por trás do olho mágico alguma coisa estava reservada para mim. Mas como um ser que tem medo de dirigir, trocar cartucho de impressora e ligar forno de fogão quando o botão é automático, eu não abri a porta.
            Senti que ainda não era a hora (nem sei se “a hora” é algo que realmente exista), mas tive medo. Tive medo de sair da zona de conforto. Tive medo da cor das minhas meias não estarem combinando com a cor dos meus sapatos e, pra variar, preferi não arriscar. Tive medo de começar a conversar e, na terceira frase, citar autores que a felicidade não conhece e ela fugir de mim como as palavras que procuro todos os dias no dicionário.
            Aos poucos sinto que não nasci para a felicidade plena. Sinto, ainda, que ela custa muito. Talvez algo que eu não consiga oferecer. Já tenho muitos ossos fora do lugar, neurônios consumidos por diversos motivos, órgãos que foram se deteriorando pelo consumo excessivo de álcool e lanches fastfood. Acho que a felicidade que bateu na minha porta merece algo melhor.
            Percebo, ainda, que a felicidade é algo que pede celular, endereço, tenta trocar email, saber o perfil do Orkut. Sinto que a felicidade busca tudo o que mais abomino: intimidade em excesso. Mais uma vez preferi a fuga.