domingo, 1 de agosto de 2010

Saudade mata?

Recentemente vi na tv uma matéria que dizia que saudade em demasia poderia matar. Não sei se saudade mata, pois se ela matasse eu já teria subido o telhado há muito tempo e talvez não estivesse mais aqui para desvelar minhas histórias (amargas?) ou presentear os colegas com os erros do meu português ruim.

Sinto saudade de muita coisa, em geral dos "eternos instantes" que nos mantém vivos. Sinto saudade de ir pra escola em dias de muito frio e apreciar a paisagem da minha cidade, que nesses dias ficava linda. Sinto, também, saudades de imaginar o que estaria fazendo quando tivesse trinta anos. Ficava a pensar em que cidade iria morar, no que estaria trabalhando. Com a mente fértil que tinha, pensava em alguns momentos em ir pra Nasa, em outros eu só queria ter a oportunidade de nada fazer.

Mesmo nos devaneios de uma criança com pouco mais de dez anos, nunca pensei em ser médico, advogado ou engenheiro. Achava que todo mundo queria ser isso e eu tinha de querer algo diferente. De noite de Natal, festa de são joão eu já nem falo, pois essas datas enchem qualquer pessoa de saudade.

Sinto, ainda, muitas saudades da época de faculdade. Fico até hoje lembrando das inúmeras conversas que tecia com mais dois amigos todas às terças-feiras depois da aula de Antropologia. A gente não queria mudar o mundo. O nosso único plano era encontrar um jornal que nos pagasse mil reais. A nossa ambição era quase nenhuma, mas tinhamos um plano.

Mas sinto saudade mesmo é da época que não era notado, que ninguém sabia da minha existência. Sinto saudades do tempo em que a minha opinião ou a minha presença tinha a mesma importância de uma samambaia no canto de uma sala. Hoje percebo que já não é mais assim. Uma simples twittada desse humilde blogueiro em início de carreira, às vezes gera comentários que dariam uma tese. E tudo o que eu mais queria era só responder a pergunta da baleia: o que você está fazendo agora? Bem, agora eu acordo pensando na minha tese de doutorado, almoço lendo textos quase incompreensíveis e durmo de olho na próxima atualização do meu currículo lattes, comemorando como atleta olímpico a cada novo artigo aceito para um congresso. É assim o meu cotidiano, e eu nada posso fazer.

Um colega falou que eu só twitto assuntos que fazem referência ao doutorado ou a coisas que não dizem respeito a ninguém. Mas, ai, eu fico a pensar: o que posso fazer se com pouco mais de 30 anos eu já tenho uma vida academicamente bem resolvida? O que posso fazer se a data do lançamento do próximo clip da Lady Gaga não me traz nenhuma preocupação? Se a data de lançamento da próxima coleção de uma grife famosa não me inspira nenhuma curiosidade? Ou se a vida dos colegas de trabalho não me motivam twittadas em ritmo alucinante? Se a vida de bailarina não é fácil, a de pesquisador e professor universitário, também não.

Isso quando não inventam de fazer mitocrítica daquilo que nem crítica merece. Ai a coisa complica de vez. Tá bom que não sou nenhum candidato ao posto de comediante do CQC, mas a ter uma escrita amarga, já é um pouco de mais. Eu gostaria de escrever sobre um mundo de maravilhas, mas desconheço esse lugar. Além de conhecer a Índia, preciso também comprar um passagem para a Islândia.

Se eu me construo a partir do lugar onde piso, eu só poderia mesmo ser um pouco amargo e ter uma escrita idem. Vejo injustiças sociais desfilarem todos os dias na minha frente. Assisto a coisas horríveis na TV. Moro num país onde a educação é problema, a saúde é um problema maior ainda, segurança, desemprego...é problema social que não cabe aqui. Será que vendo e vivendo isso tudo, eu poderia ver a vida da mesma forma que um habitante de Reykjavík? não dá, desculpa ai.

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