sexta-feira, 25 de junho de 2010

Do tempo que eu era criança ll



O papel não tem cheiro. Mas se tivesse, gostaria que hoje fosse de pamonha, canjica, milho cozido, entre outras delícias das festas juninas e que tanto marcaram a minha infância. Nascido numa cidade que se orgulha de realizar o Maior São João do Mundo, com uma mãe festeira e que faz aniversário na véspera de São João, me recordo muito de como começava o dia 23 de junho na minha infância. Era de festa, mas na minha casa tínhamos era muito trabalho. Era descascar o milho, moer, raspar, misturar com coco, com leite, com canela, era uma profusão de cheiros e sabores, que nós, as crianças, só esperávamos com ansiedade a hora de provar. Era um ritmo de trabalho frenético, embalado por músicas juninas que ainda hoje me trazem muitas recordações.

Durante todo o dia, os “meninos” eram responsáveis por realizar as pequenas tarefas. Era ir à mercearia, na casa de um vizinho, chamar alguém para resolver um pequeno problema. Hoje vejo que era mais trabalho que festa. Mas fazíamos tudo com muita alegria, já que na minha casa a noite de são João era a mais esperada do ano. Para essa noite a casa ficava arrumada, cortinas novas eram compradas, meu pai pintava a casa, nós esperávamos com muita ansiedade a noite de 23 de junho. Nos fios que ajudam a construir a minha memória, lembro de como era bonito ver os balões no céu e, de longe, as luzes que iluminavam o Parque do Povo, local onde se realiza a “maior festa de são João do mundo”, que pela pouca idade eu ainda não freqüentava à noite.

No final da tarde era a hora de preparar a roupa nova, esperar a família toda ficar reunida e acender a fogueira. Gostava muito de ver a rua toda iluminada pela chamas das fogueiras e ficar brincando ao seu redor, mesmo sem saber que estava desafiando o perigo. Lembro, ainda, que as fogueiras deixavam um cheiro forte na roupa e os olhos irritados, o que fazia muita criança chorar. Quando dava 10 horas da noite era a hora de jantar, mas em geral não comia muito por já ter beslicado o dia todo.

E durante toda a noite, a rua ficava cheia, as pessoas muito animadas. Em cada casa uma música, em cada casa uma festa, e assim a festa seguia por toda madrugada. Alguns dizem que é o no período de São João que o nordestino é mais nordestino. Concordo com quem formulou a frase. Só sabe a importância da festa junina quem mora no Nordeste, queM aprendeu esperar o tempo de chuva, o tempo do milho, o tempo da bonança.

* Texto apresentado à professora doutora Iduina Moltalverne, da disciplina Memória e Narrativa, do curso de Doutorado em Educação da Universidade Federal Fluminense

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