sexta-feira, 25 de junho de 2010

Se você quiser eu posso tentar, mas eu não sei dançar pra te acompanhar

Depois de muitas experiências empíricas, tenho construído uma teoria que mostra que o número de pessoas que você pega na noite é proporcional a sua capacidade de dançar. Dança bem, pega todo mundo. Não dança, volta pra casa sozinho com cara de quem vai tomar mais duas cervejas e ouvir Alcione cantando ¨A Loba” para a vontade de dar aquela ligação que só os bêbados dão ocorrer mais rapidamente.

E no quesito dança eu não passei da educação infantil, ainda não aprendi a brincar de massinha. Não sei se é o meu corpo de estrutura esquizofrênica, onde mora uma cabeça latino americana e uma cintura escandinava que me torna um inapto para aprender a dançar. Mas é fato que sou um vexame. As poucas tentativas foram frustradas. Vi olhares de soslaio, alguns sorrisos entremeados por gargalhadas e uma ou duas pretensas presas que se afastaram na velocidade de um carro de fórmula de 1.

A minha matemática da dança não consegue sincronizar dois pra lá dois pra cá. Comigo é dois pra lá e um pra cá, sempre. O que sempre me faz ouvir aquela frasezinha vagabunda: “você dança de um jeito diferente”. O problema é que eu não danço “de jeito diferente”. O problema é que eu não sei dançar!

Eu sei outras coisas. Mas as coisas que sei demoram muito tempo para serem mostradas. Eu conheço uns dois conceitos de Gramsci, conheço um pouco da vida de Bourdier, estou mantendo uma relação super próxima com Paulo Freire, sei falar um pouco sobre o conceito de fetiche e mercadoria em Marx. Mas para que serve isso, se eu não sei dançar?

Se no meio da pista o cidadão tentar discutir o conceito de estado ampliado em Gramsci, é capaz da pretensa presa perguntar se a pessoa esqueceu de tomar o tarja preta antes de sair de casa. Agora...se você decorou a última coreografia da Lady Gaga, é capaz de você ser alçado ao olimpo dos deuses da pista de dança, aqueles para os quais sobram presas e falta um pouco de simancol.

Um comentário:

  1. Adorei seus textos! Especialmente este de não saber dançar me fez dar boas risadas. Vou continuar acompanhando você aqui de longe para não correr o risco de perturbar a sua adorável solidão e preservar nossa amizade.

    ResponderExcluir